As cheias de 1967 em Lisboa foram uma das maiores tragédias naturais da história moderna de Portugal. Este evento devastador, que ocorreu entre os dias 25 e 26 de novembro, deixou um rasto de destruição, sofrimento e luto e marcou profundamente a memória coletiva do país.
O CONTEXTO DAS CHEIAS
Naquela época, Portugal vivia sob o regime ditatorial do Estado Novo, liderado por António de Oliveira Salazar. O país era essencialmente rural, mas Lisboa e os seus arredores estavam em rápida urbanização, com muitas áreas habitadas por populações pobres que viviam em condições miseráveis. Muitos bairros eram constituídos por barracas, o que aumentava a vulnerabilidade aos desastres naturais.
Os dias que antecederam as cheias foram marcados por chuvas intensas e persistentes. O solo, já saturado de água, perdeu a capacidade de absorver mais água. Na noite de 25 de novembro, uma chuva torrencial caiu sobre a região de Lisboa e arredores, provocando inundações em grande escala.
O IMPACTO DAS CHEIAS
As águas dos rios Tejo, Trancão e Jamor transbordaram. A rapidez e a violência das inundações apanharam muitas pessoas de surpresa. As áreas mais afetadas incluíram Alfragide, Linda-a-Velha, Odivelas, Sacavém e Vila Franca de Xira, onde muitas casas e barracas foram destruídas ou arrastadas pela corrente.
Mais de 700 pessoas perderam a vida, embora os números oficiais do regime fossem inferiores, numa tentativa de minimizar a dimensão da tragédia. Milhares de pessoas perderam tudo. A destruição de infraestruturas, como pontes e estradas, dificultou o acesso a áreas afetadas.
A RESPOSTA AO DESASTRE
A resposta inicial às cheias foi limitada e desorganizada. As autoridades locais e nacionais não estavam preparadas para lidar com uma calamidade. A população, especialmente nos bairros mais pobres, ficou sozinha e sem ajuda.
Os meios de comunicação também enfrentaram dificuldades para reportar o evento, devido à censura do regime. Apesar disso, as imagens e relatos das cheias acabaram por circular, despertando uma onda de solidariedade em todo o país. Várias organizações e indivíduos mobilizaram-se para ajudarem, fornecendo roupas, alimentos e abrigo aos sobreviventes.
A MEMÓRIA DAS CHEIAS
As cheias de 1967 permanecem uma ferida aberta na história de Lisboa e de Portugal. Todos os anos, a data é lembrada como um momento de luto e reflexão sobre a importância de prevenir os efeitos de desastres naturais.
Este evento também serve como um alerta para os desafios que enfrentamos hoje em dia, como as alterações climáticas e a urbanização desordenada, que continuam a aumentar o risco de inundações em muitas regiões do mundo. A história das cheias de 1967 recorda-nos que a preparação e a solidariedade são essenciais para enfrentar as adversidades.